A apneia e a fotografia subaquática

Texto: Rui Guerra
Não é novidade para ninguém que fotografar a vida selvagem, seja debaixo de água ou numa qualquer planície africana, exige um elevado grau de descrição e de simbiose com o meio envolvente.
Essa descrição pode ser conseguida a diversos níveis e muitas vezes sem se recorrer a equipamentos muito sofisticados ou dispendiosos. Se o fotógrafo no meio da savana pode escolher entre uma teleobjectiva e um abrigo camuflado, tais escolhas não são possíveis para o seu congénere subaquático. Efectivamente, no meio líquido os sons propagam-se de forma muitíssimo mais eficaz e a maiores distâncias tornando a presença do mergulhador com escafandro autónomo, óbvia para qualquer ser marinho a grande distância. A título comparativo seria como se o nosso fotógrafo em terras de África tivesse presos a si uma série de chocalhos e guizos e tentasse dessa forma passar despercebido…
No entanto nem tudo está perdido para o fotógrafo subaquático munido de escafandro autónomo. Isto porque a fauna marinha tem um espaço mínimo privado relativamente pequeno e toleram a aproximação do ser humano até certo ponto. Mas para que isso aconteça é essencial que a sua postura seja não agressiva, com movimentos calmos e ponderados. Há no entanto uma coisa que ele não consegue evitar e que é simultaneamente aquela que mais barulho faz debaixo de água: respirar!
De facto, o funcionamento do regulador e a libertação de bolhas são extremamente ruidosos e denunciam a sua presença a grandes distâncias. Seria como se o nosso fotógrafo “Africano” transportasse consigo permanentemente uma coluna de fumo preto e espesso…
Como evitar então a libertação de bolhas? Simplesmente parando a respiração. Nem que seja por breves segundos esta pequena apneia pode fazer toda a diferença na fase final da aproximação ao motivo ou até simplesmente para evitar que essas mesmas bolhas apareçam na fotografia quando se está a utilizar uma objectiva com um ângulo de visão extremo.
Claro está que se a respiração for retomada exactamente quando não deve, o motivo pôr-se-á em fuga para não mais voltar. Convém pois que o fotógrafo esteja completamente à vontade no seu meio, descontraído e que tenha um mínimo de capacidade de apneia.
Mas, porque não levar esta utilização da apneia ao seu extremo, dispensando completamente o uso do escafandro autónomo? Porque não assumir plenamente essa simbiose com o meio, integrando-se de forma pura e hidrodinâmica no ambiente subaquático? Porque não estender o tempo que se passa a fotografar de 50 minutos a várias horas por dia? Porque não aprender a controlar o nosso corpo a um nível mais elevado melhorando substancialmente a nossa aquacidade e desempenho enquanto fotógrafos e mergulhadores?

Comentários

RTDphotos disse…
Acho muito interessante esta abordagem da fotografia subaquática.
Sou fotógrafo de surf e recentemente fotografo também actividades em piscina, e é esta a minha meta!
Abraço,
Rui
Iniciei-me na fotografia subaquática em apneia e, de facto, podia estar horas a fotografar sem me preocupar com falta de ar. O limite era mesmo o rolo e, posteriormente, a bateria dos strobes. Mas para ir um pouco mais fundo e continuar a fotografar os meus motivos predilectos (nudibrânquios), a transição para o mergulho com escafandro autónomo foi obrigatória. Já não fotografo em apneia mas continuo a reconhecer algumas vantagens.

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