Uma Visão Científica - 1º capitulo
O
mergulho livre está associado a alterações únicas da fisiologia humana, havendo
uma variedade de respostas fisiológicas induzidas pela imersão, apneia e
compressão torácica. As respostas mais proeminentes são
respectivamente a bradicardia, a vasoconstrição periférica e a contracção do
baço. Todas estas respostas ajudam a conservar oxigénio durante os mergulhos e a
atrasar os efeitos da hipoxia e da hipercapnia, denominando-se por reflexo de
mergulho. A eficiência destas respostas pode ser aumentada com treino
apropriado e com a aquisição de experiência (Ferreti, 2001; Fitz-Clarke,
2006; Bruijn, Richardson e Schagatay, 2009). O estímulo nervoso que inicia o reflexo de mergulho deve-se tanto
da apneia como da estimulação dos termoreceptores que estão localizados na face,
durante a imersão da mesma. A conservação de O2 resulta de uma
redução do fluxo sanguíneo nos tecidos, de uma diminuição do consumo de O2
do miocárdio durante a bradicardia e a uma depleção reduzida do oxigénio
pulmonar (Bruijn, Richardson e
Schagatay, 2009).
O estímulo respiratório e as fases da apneia
O estímulo respiratório durante a apneia depende
tanto da hipóxia como da hipercapnia e das suas interacções. Enquanto que o
dióxido de carbono é o factor dominante para induzir a respiração em
“não-mergulhadores”, o estímulo respiratório
torna-se mais dependente do desenvolvimento da hipoxia em mergulhadores
treinados, com uma resposta ventilatória reduzida para a hipercapnia. Num dado
momento durante a apneia, a PaCO2 é baixa e a PaO2 é alta
nos mergulhadores em comparação com não-mergulhadores, enquanto que no fim de
apneias máximas a situação inverte-se, mostrando que os mergulhadores conseguem
tolerar níveis mais elevados de hipercapnia e hipoxia mais severa (Schagatay,
2009).
A apneia é caracterizada por duas fases, uma
inicial “fase fácil” sem uma necessidade urgente de respirar, seguida de uma
“fase de luta” onde principalmente a acumulação de CO2 irá dar lugar
progressivamente a movimentos respiratórios involuntários mais poderosos,
denominados por contracções diafragmáticas (Schagatay, 2009).
Técnicas de respiração e relaxamento
Técnicas de respiração e relaxamento
Um dos aspectos fundamentais que se deve ter em
conta durante a preparação para a realização de um mergulho em apneia é
justamente a forma como se respira, não basta uma simples inspiração mais forte
ou mais profunda, os pulmões deverão ser aproveitados ao máximo na sua
capacidade volumétrica (Lindholm e Lundgren, 2009). O relaxamento especializado
adaptado do Yoga, com técnicas de respiração adaptadas às performances de
apneia, é usado praticamente por todos os atletas de elite, antes das
competições. Num desporto onde o consumo de oxigénio mínimo e taxas metabólicas
reduzidas são mais importantes do que o consumo de oxigénio máximo, então as
técnicas de relaxamento e respiração vão ter um impacto significativo nas
performances e nos resultados (Lemaitre, 2007).
Com a evolução do desporto houve necessidade de
utilizar técnicas que acompanhassem esta evolução. Desta necessidade foram
surgindo técnicas de relaxamento, alongamento, respiração, imersão e compensação
e técnicas que potenciassem a capacidade pulmonar. Assim, uma das técnicas adaptadas
e utilizadas por estes mergulhadores denomina-se Respiração Glossofaríngea e
esta é utilizada como método de
alongamento da caixa torácica, como método de aquecimento e utilizada
imediatamente antes da performance após uma inspiração máxima com o objectivo
de aumentar a capacidade pulmonar (Heusser
et al., 2010; Seccombe et al., 2010). Em Portugal esta técnica é conhecida por Carpas.
© Mafalda
Oliveira - Excerto de Monografia “A Influência da Fisioterapia na Aprendizagem da Respiração
Glossofaríngea em Praticantes de Mergulho Livre”.
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